O.UBATUBA DE FARIA E A GEOPOLÍTICA DO LITORAL NORTE

Em 1939 o Diário de Noticias anunciava que a Cidade Balneária na Costa Atlântico, com a presença do Dr.Gabriel Pedro Moacyr representando os consórcios:

Fischer; Martins e Cia; Palma, Conceição e Cia e Companhia Technico Comercial Limitada, entregou ao Dr. Miguel Tostes, Interventor Federal Interino, requerimento pedindo concessão para construir uma cidade balneária na Costa Atlântico.

Além do requerimento, o Eng.º Gabriel Pedro Moacyr, encaminhou um “dossiê” de todas as plantas e um relatório referente à construção da nova cidade de veraneio.Gabriel Pedro Moacyr solicitou a Loureiro da Silva que sugerisse o nome para o novo empreendimento que se chamaria “ATLÂNTIDA” para a futura cidade balneária do Estado.

Neste caso o Rio Grande do Sul começava a definir os primeiros projetos para a elaboração de uma estação balneária, como  as já existentes na  Argentina, Uruguai, os Estados Unidos, os países da Europa da Costa Marítimos e vários de nossos estados, como  Guarujá  estância próxima a São Paulo.

No projeto apresentado, destacava-se o “Grande Hotel Casino” com capacidade de 200 quartos e 200 banheiros, além de todos os serviços e de infra-estrutura.
“Atlântida” tornava-se um objetivo para o RS, por suas condições de beleza e pelos requisitos sanitários de que iria  dispor como canalização de água potável e serviços de esgotos. A iniciou em  1939 e terminou em 1941 .O projeto teria  como apoio de acessibilidade à construção de uma estrada de rodagem de 120 Km ou seja 2 horas de automóvel.

O Plano da cidade e sua urbanização foi idealizado pelo Eng.º Ubatuba de Faria e Eng.ºGabriel Pedro Moacyr, os desenhos dos projetos e perspectivas o arquiteto Erwin Brandt da firma Dahne Conceição e Cia.
Estrada Porto Alegre – Osório-Atlântico, entre Tramandaí e Capão da Canoa, no município de Osório.O DAER estaria participando na construção de uma via de ligação.
O Grande Hotel Cassino se complementaria com arruamento, calçamento, água instaladas  em todas as peças do edifício, esgoto, e energia para uma população de dez mil habitantes, assim como investimentos em infra-estrutura.
Miguel Tostes – Secretario do Interior respondendo pelo expediente da Interventoria Federal, recebe de Loureiro da Silva a indicação do  nome de Ubatuba de Faria  para realização do Plano do Balneário da Atlântida.


Ubatuba de Faria em entrevista ao Diário de Noticias em 12/05/1939, afirma:
Tinha  a certeza absoluta de que uma cidade balneária a altura do grau de civilização a que atingiu Porto Alegre e que será um sucesso sobre todos os pontos de vista.
Um grande centro de recreio, um balneário modelo com espaços verdes em abundância com 25% da área, campos de esporte, piscinas, parques para estacionamento de veículos, colônias de férias tudo racionalmente distribuído.
Uma obra eminentemente social:
O loteamento foi feito de maneira a tornar acessível à aquisição de terrenos aos menos protegidos pela fortuna. A concepção do parque de estacionamentos servido com restaurante, a preços populares, serviços sanitários públicos, fontes distribuindo água tratada a todos os solicitadores, proporcionando um verdadeiro camping, a maneira mais acessível de qualquer família passar economicamente alguns dias a beira mar.

Plano Cidade Balnear “Atlântida” em 27/11/1939, começou-se a definir o projeto.

O Decreto Lei  estabelece novo regime para as praias balneárias do Rio Grande do Sul, e acreditamos na participação e elaboração pela Secretaria de Obras Públicas e pelo DAER como participantes na elaboração do Decreto, que deve ter sido elaborado no governo do Gal. Cordeiro de Farias, Interventor Federal que criou o Departamento de Balneário Marítimo com o apoio do Departamento Estadual de Saúde.

Ubatuba de Faria se encontra com o Senhor Ibanez Vernei, Secretário da Interventoria Federal, que lá já se encontrava, para estudarem a organização das estações balneárias do Uruguai, que são as melhores da América, tanto em conforto como em beleza arquitetônica. Foi realizada viagem em 01/07/1942 com volta em 5/07/1942.

Em Montevidéu, juntamente com o embaixador Batista Luzardo entra em contato com a Comissão Nacional de Turismo, em “Missão Oficial”, do Uruguai que controlava todos os serviços que tinham  o objetivo de atrair turistas ao país.

Ubatuba de Faria monta Plano de Trabalho para  desenvolver o Departamento Estadual de Balneários,  direção do Ibanez Verney, onde o objetivo é um “Programa de Colônias Balneárias” para todas as classes sociais visando o bem estar Porto-alegrense.

No ano de 1942 o Governo do Rio Grande do Sul cria o departamento estadual de balneários, organizados para desenvolver a questão das praias gaúchas sob normas mais recomendáveis e de controle dos ‘centros de recreio “. Na questão do turismo o Departamento Estadual de Balneários Marítimos, desenvolvera sua ação nos referidos espaços do litoral Atlântico que passara por completa transformação”.

Após o envio de Ubatuba de Faria a Montevidéu para melhor conhecer o processo de transformação no turismo pela República do Uruguai graças a eficaz orientação da Comissão Nacional de Turismo criado em 1933.O objetivo da viagem é conhecer o processo pelo qual vem passando os balneários uruguaios, da afluência estrangeira as praias uruguaias, numa temporada de veraneio de 20 milhões de pesos.

O processo de transformação passou pela lei de empréstimos hipotecários para o fomento da construção de hotéis de grande especificidade.No inicio, o governo Uruguai estabeleceu um crédito de 2.500.000 de pesos para ser investido em construções. Mínimo de 100.000 pesos para Montevidéu e de 50.000 para os outros departamentos do Uruguai.

Na questão de avaliação global do terreno e da obra a ser edificada, se fornecia 75% do capital.Posteriormente, esses créditos foram renovados, havendo regulamentos especiais a propósito da maneira de serem concedidos os referidos empréstimos.A taxa de juros era de 4% e a liquidação do empréstimo alcançava até o prazo Maximo de 30 anos.O total de créditos fornecidos atingiu a significativa quantia de 6.450.000 pesos.

A questão da manutenção dos “hotéis de praia” é delicada e difícil. De um lado as exigências das Sociedades Cooperativas dos Empregadores de Hotéis, que impõem normas aos patrões e mesmo salários, percebendo um cozinheiro chefe de hotel, nada menos de 4 contos de réis,de outro lado, os hotéis de maior categoria necessitam manter orquestras, que quase sempre são argentinas a preços fabulosos. Outro aspecto complexo para a gerência são os parcos recursos das famílias tradicionais em decadência financeira.

Diante do panorama do Uruguai, os estabelecimentos envolvidos estão diretamente ligados aos cassinos, pois em todos os hotéis funcionavam salas de jogos,estas eram que são fiscalizadas pelo governo ou diretamente ligadas a ele.A temporada de 1940/41 acusou uma receita de 90.089 pesos nos cassinos municipais e nos cassinos particulares 151.660 pesos uruguaios.Ubatuba de Faria em 20 dias de pesquisa tem como observação e reflexão os seguintes conceitos em entrevista dada ao Diário de Noticias de 09de Agosto de 1942.
               
 “ A nossa recente viagem de observação e estudos dos balneários do Uruguai foi- nos de“lata valia” pois pudemos interpretar e sentir uma série de problemas a e verificar”de visu” o resultado de medidas relativas dos balneários especialmente do ponto de vista turístico.O Estado do Rio Grande do Sul, tão bem orientado pelo seu governo, pode adotar um programa de ser desenvolvido dentro de sua  possibilidades.O urbanismo regional e uma das diretrizes básicas, dele dependendo o desenvolvimento maximo e normal das estâncias balneárias na nossa faixa(120 Kms), três questões devem ser apontadas e estudadas:
                  - a defesa nacional da costa
                  - a barra do canal de porto alegre do mar
                 - criação de uma colônia de pesca para servir a zona mais populosa do estado.

A localização dos balneários sem estudos prévios pode vir acolidir com problema como os enumerados acima, provocando embaraços. A fixação de dunas e o florestamento devem ser incrementados.Impoem-se igualmente a restrição do numero dos balneários e o incremento da casa própria.A existência de bons hotéis é primordial.Os balneários precisam desempenhar finalidades social e eugênica, para tanto, devem ser orientados e construídos de maneira a oferecerem diversões custosas dos ricos e prazeres de vida ao ar livre para as classes menos favorecidas pela fortuna.

A necessidade de entidades coletivas de férias na base do cooperativismo generalizado é evidente, pois as colônias de férias devem servir a todos os indivíduos de um determinado standard de vida, sejam eles empregados do comércio, funcionários públicos ou operários de fábricas.

Podem ser construídas na base de casas econômicas, onde cada unidade servirá no d´curso de uma estação balnear a diversas famílias, em etapas balnear a diversas famílias, em etapas sucessivas de 15 a 25 dias.Assim se aproveitara o maximo do capital investido nas construções.

O período balnear convém ser dilatado, podendo começar em princípios de dezembro e terminar em fins de março.As diversões e o fogo dos balneários só podem existir com eficiência quando da população desses centros de veraneio atingir a uma determinada cifra.O elemento flutuante não trás bons resultados, daí a necessidade da política de desunificar a população dos balneários dentro dos limites das boas normas urbanísticas.

O turismo deve ser fomentado dentro do Rio Grande do Sul, que conta com 3.350.000 habitantes.Não devemos nos imbuir de que somente o turismo estrangeiro constitua fonte de renda efetiva afirma que se pode medir a riqueza de um país pela exigência de sua população, que determina um alto Standard de vida.

Uma propaganda eficientemente orientada é elemento imprescindível a todo e qualquer sucesso que se queira obter.Educação turística deve ser difundida, Porto Alegre, já por ser a capital do Estado e seu núcleo mais populoso, já pela sus situação geográfica natural, é forçosamente, o centro de onde se irradiará todo o movimento turístico em demanda as nossas praias, as nossas estações de altitude, e os centros hidro minerais do Rio Grande do Sul.

Uma boa estrada, ligando Jaguarão a Porto Alegre – segundo a palavra do Sr.Horácio Arredonda, diretor do departamento Turístico uruguaio – será o primeiro passo decisivo em prol de um eficiente intercambio turístico entre o Rio Grande do Sul e as Republicas do Prata.


 Ubatuba de Faria, como urbanista têm um olhar diferenciado, a partir das suas observações e opiniões a respeito da questão do meio ambiente na qual equaliza “A fixação de dunas e o florestamento devem ser incrementados”.Diante do viés social sua postura com relação a classe trabalhadora, a questão do adensamento populacional como controle,dentro das melhores condições de qualidade de vida sua preocupação por um processo justo na formação dos novos núcleos populacionais, vai se apresentando um técnico com formação humanista um intelectual prático e formal nos preceitos do urbanismo de Mauricio Cravotto e na forma de melhor apresentar os conceitos éticos de sua época.

Em 1943 Ubatuba de Faria faz uma Conferencia na Sociedade de Engenharia sobre urbanização dos Balneários, levando uma platéia formada de engenheiros, médicos e autoridades municipais.
Neste período,Ubatuba de Faria tornou-se responsável pelo Departamento de Balneário Marítimo, onde foram apresentados critérios sobre a questão da implantação dos projetos para os Balneários em formação,tais como:
- Aspectos físicos e o panorama histórico da região focalizando os aspectos climáticos, geológicos e econômicos, destacando a importância da indústria da pesca em determinados pontos da região litorânea.
- Urbanização dos núcleos balneares já existentes, mostrando a necessidade de dotá-los de elementos capazes de proporcionar um meio social, tais como, colônia de férias para entidades de classes, bairros populares, não esquecendo a necessidade de parques de estacionamento, a fim de solucionar o problema de congestionamento.
- A questão da recreação não foi esquecida, ao contrário, mereceram cuidados justamente por se tratar do interesse maior de quem procura as praias para descansar, recuperar a saúde física e psíquica.
- Diferenciação entre turismo regional e  estrangeiro tornando as nossas praias motivo de atração e, de desenvolvimento econômico.
- Entre as questões apresentadas, o que despertou grande interesse foi a divisão do Estado em duas zonas de influencia balneária abrangendo 72 municípios com uma população de 2.600.000, flagrantemente mais que a do Sul com 14 municípios num total de 500.000 habitantes.
Ao terminar a sua  conferência, Ubatuba de Faria foi calorosamente aplaudido pela assistência.
 Ubatuba de Faria tinha compreensão dos fatos de sua época. Na abordagem de pontos que envolviam a questão da segurança nacional, principalmente naquele momento em que o mundo estava em plena II Guerra Mundial, estes são alguns destacados:
- Defesa nacional da costa.
- Barra do canal de Porto Alegre
- Criação da colônia de pescadores
- Aspectos técnicos com a região
- A questão social vinculado aos trabalhadores
- Espaço e lazer como complemento para higiene do lazer
- A vocação do desenvolvimento econômico no Litoral
- Urbanismo regional da divisão norte e sul do litoral gaúcho como áreas de atuação.

Em 01/03/1944 Ubatuba de Faria apresentava na Praia do Cassino em Rio Grande a proposta sobre a praia e suas perspectivas.(c/mapas e desenhos).
Chegando e tomando contato com o prefeito de Rio Grande, Roque Alta Junior ,apresentou os diversos pontos de urbanização das áreas do litoral relacionados a Praia do  Cassino que seria dividida em três zonas, em relação ao preço dos terrenos e edificações:
- Zona rica
- Zona média
- Zona econômica, destinada a operários e pessoas de  recursos mais exíguos e na qual ficariam situadas as colônias de férias.
- Plano de arborização
- Edificação de um hotel (grande) e menores como apoio
- Construção de uma pista para pouso de aviões.
- Planta de construção de um abrigo de ônibus
- Restaurante (de apoio)
- Aumento de 1200 mts de estrada de ferro favorecendo os menos afortunados.

Em 30/01/1944: a questão do problema das praias há muito tempo que vem preparando os técnicos em função do Litoral do rio Grande do Sul.O Departamento de Balneário Marítimo noticia que Tramandaí será convertido pelo estado num balneário modelo.A questão do urbanismo para uma melhor qualidade de vida, os balneários preencherão sua verdadeiras finalidades sociais e higiênicas dentro da orientação sadia de favorecer todas as classes.

Serão estabelecidas, também, colônias de férias. O governo cederá terras de seu patrimônio para num determinado numero de anos serem utilizados pelos veranistas.

A estação balneária preenche duas finalidades de repouso e de distração, o que necessariamente pede melhoramentos que permitam o gozo dessas duas finalidades tão importantes para a vida moderna.Assim o estabelecimento de casas de jogo de diversões etc...foi previsto como uma necessidade para os que procuram as praias do mar em busca de repouso e de diversão,uma vez alcançado o objetivo acima nossas praias realizarão com as do Uruguai.

Todas as medidas a serem tomadas pelos técnicos estava na formação de um porto de mar em Tramandaí, onde o Governo do Estado do Rio Grande do Sul cogitava  a construção do mesmo.
O projeto existente na Secretaria das Obras Publicas é apresentado pelo Engenheiro Jorge Porto, da Diretoria de Serviços Hidrográficos.É a construção de um molhe de pedra e curvo e único, que começando na ponta pencil da Praia do Imbé, entra mar a dentro numa extensão de aproximadamente 700 metros, até atingir a profundidade de 6 metros.Com esse molhe ficará fixada a barra do tramandaí que atualmente se desloca continuamente para o norte.O molhe curvo, além de assegurar a profundidade do canal protejerá do mar a extensão necessária a construção de estaleiros para o reparo de barcos, caís para mercado de peixe, fabrica de conserva e adubos de peixe etc...

A pesca marítima e a industria do peixe impulsionarão com a realização das obras,um desenvolvimento semelhante ao de Rio Grande.Tramandaí estará destinado a ser um porto de movimento ascendente, com os melhoramentos projetados.A sua população tenderá a crescer, assim como a influencia dos banhistas hoje tão refratário em vista das dificuldades que sempre encontraram.

Poucos atrativos naturais oferece a continuidade de praias do Rio Grande, com exceção da magnífica e soberana Torres de fascínio.Entretanto, a ação urbanizadora, logrou quebrar, a monotonia de nosso Litoral em Atlântida.

Tal conquista se deve a Ubatuba de Faria.O projetista idealizou e traçou o balneário como ele se apresenta até hoje, amplo arejado, com seu centro comercial definido dentro de vasta área verde, prevendo locais para a construção de apartamentos que se debruçam sobre duas amplas avenidas.De tudo isto ainda sobra uma seqüências de modernas ruas com habitações custosas, realçadas pelo suave e feliz colorido de fachadas  que não se repetem  em suas linhas.

A ausência de cerca ou qualquer divisão proporciona atraente aspecto ao imenso tapete verde comum a todas as residências dentro da melhor inspiração de Punta Del Este.

 Esta alteração da implantação hoje esta sendo substituída por cercas e equipamentos eletrônicos por uma questão única: proteção da população perante  assaltos e roubos, a escala da relação da vizinhança foi rompida, como proposta inicial, desenvolvida por Ubatuba de Faria, com relação a teoria  da cidade jardim de Ebenezer Howard, assim como a influencia de Mauricio Cravotto.

Atlântida seria igual a qualquer outro balneário, pois nada oferece de natural que a diferencie das praias do estado. Reside exclusivamente na forma como foi lançado ao papel o segredo de sua atração. O traço original valorizou-lhe todo o andamento.Se isto o empenho e zelo de Ubatuba de Faria, laureou-se o inoxidável urbanista ao encargo com disposição e entusiasmo inexcedíveis.

Ubatuba de Faria deixou no litoral uma das mais duradouras conquistas, o mérito de caracterizar Atlântida, com tonalidades próprias, dentro do extenso roteiro marítimo que nos conduz do Rio Mampituba abaixo, na monótona seqüência de areias e campinas rasas batidas pelo vento sem abrigo e sem vegetação ressalvada, repete-se o destacado relevo que merece Torres.

Atlântida reverenciou a memória de Ubatuba de Faria erigindo-lhe um busto de bronze feito pelo escultor Vasco Prado.

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