I.ESPAÇO E REFLEXÃO
Ao objetivarmos a nossa reflexão enfocaremos uma das suas vertentes como
objeto para melhor avaliarmos a cidade como representação urbana como uma
somatória de bens culturais.
A cidade é o espaço por excelência para a construção destes significados
expressos no Imaginário no Simbólico e na Utopia, através da “leitura da
cidade” ou de sua representação. Estas são as matrizes geradoras de praticas
sociais pelas imagens reais(centros, paisagem de ruas, arquitetura) e pelas
imagens metafóricas(literatura, pintura, poesia, discurso técnico e higienista
etc...).
A questão urbana começa a ter importância quando se impõe diante do Estado
como exigência de “modus vivendi” do “normalizador viver em cidades”, conforme
os processos econômicos e sociais:
Concentrações populacionais
Migrações Rurais
Transformações do espaço.
Estes itens acima assinalam crescimento e configuração das cidades.[1]
Compreender que os espaços construídos, ordenados e transformados para as
vivencias eram testadas frente ao consumidor com referencias estabelecidas como
a cidade vem associada a dados concretos:
Avenidas largas
Saneamento urbano
Padrão de edificação
Numero de população
Sistema de serviços urbanos implementados
Rede viária
Infraestrutura de lazer e comercial [2]
Projetar é uma maneira de construir, começa então a transformar o núcleo
iniciá-la em cidade, através de uma pratica definida e de um exemplo de época,
nisto se insere a forma de pensá-la, vivê-la ou sonhá-la enquadrando dentro dos
critérios do Imaginário o Simbólico e a Utopia.
A projeção de “uma cidade que se quer”, imaginada e desejada, sobre a
cidade que tem um plano se enquadra sobre Atlântida que no caso veio a
realizar-se.
No caso do litoral e seus núcleos do ponto de vista da historia cultural
urbana é que “a cidade do desejo” existe como elaboração simbólica na concepção
de quem projetou a concretização.
As lógicas sociais implicam em julgamentos sociais, vivencias e
lembranças e posições estéticas nas representações do mundo social assim
constituídas que classificam a realidade e atribuem valores, no caso ao espaço
, a cidade, a rua, aos bairros, aos habitantes da urbe, não é neutra, nem
reflexa ou puramente objetiva, mas implica atribuições de sentidos em
consonância com relações sociais de poder.[3]...
As representações do mundo sociais assim constituídas, que classificam a
realidade e atribuem valores no caso do espaço, a cidade, a rua, aos bairros,
aos habitantes da urbe,aos não e neutra, nem reflexa ou puramente objetiva, mas
implica atribuições de sentidos em consonância com relações sociais e de
poder.[4] ...
No cruzamento do espaço e tempo, a cidade aparece como uma emaranhada
floresta de símbolos, que podem se tornar legíveis para o historiador ou, pelo
contrario, se configurar como obstáculos. [5]...
Ubatuba de Faria, na criação de Atlântida e Imbé, conhecia a realidade do
momento político e econômico e achava, com lógica, que em seus novos projetos
as cidades a indústria e o comércio formariam parte de uma economia de âmbito
superior, fluente e aberta, em oposição à ordem fechada e estética dos
utopistas.
A cidade-jardim apresenta-se de
grande eficácia, tornando-se uma cidade,
de tamanho instável e com uma disposição por áreas predominantemente
residenciais ,com incentivo à vida de
bairro e às atividades de comércio e serviços que apoiam o dia a dia da
população normal. Deixou de ter a elegância dos traçados das ruas da concepção
original, uniformidade das construções e a distribuição de espaços verdes, os
primeiros habitantes das duas cidades-jardim tinham consciência de formarem uma
comunidade sui generis.
RADBURN
IMBÉ
Os projetos e implantação das cidades-jardim de Ubatuba de Faria causou
um impacto considerável desencadeando um movimento dirigido á valorização da
localização, baixa densidade, introdução da vegetação em espaços abertos de uso
publico e preferente utilização da residência unifamiliar com jardim próprio.
Mas a ideia fundamental de Ubatuba de Faria, o controle da propriedade do
solo pela comunidade, continuou sendo utópica. O nome cidade-jardim ficou
incorporado ao urbanismo, passou a designar no litoral norte o amplo conjunto
de casas unifamiliares dotado de um planejamento mais ou menos aberto e
ajardinado.
Ubatuba de Faria tem nas suas características formais da cidade-jardim a
reprodução fiel às vantagens, mas não se ocupou da arquitetura, deixando determinado o traçado da cidade
possibilitando que os estilos dos
edifícios se tornasse mais criativo. Ele
esta entre os arquitetos que trabalharam em seus projetos as planimétricas
sinuosas onde as edificações usaram da abstrata liberdade de sua época, as
concepções urbanísticas que refletem o modelo de Howard, as planimétricas
labirínticas.
Propondo-se a resolver o problema das cidades, Ubatuba de Faria
evidenciou a cidade como um lugar onde as atividades humanas se integram. Seu
plano é de uma cidade auto- suficiente, sugerindo a ideia de dividir a cidade
tradicional em fragmentos distanciados e autônomos enquanto o problema seria de
individualizar, dentro da cidade, uma unidade menor, de tamanho adequado, e ver
que atividades e serviços seriam preciso colocar nesta escala e quais em escala
citadina.
Ubatuba de Faria lança-se no problema de dividir e preencher os espaços
com uma hierarquia apropriada de unidades urbanísticas e devolver à cidade uma
articulação adequada.Neste sentido, o pensamento de Howard passou por etapas e
antecipou um dos problemas fundamentais da urbanística moderna.
O romantismo e o amor pelo pitoresco que se evidenciaram nos projetos de
Ubatuba de Faria, levaram a importantes resultados culturais, como considerar a
paisagem urbana como um conjunto orgânico e a dirigir sua atenção para os
múltiplos acessórios que integram a cena arquitetônica e modificam amplamente o
caráter ambiental.
Estabelecendo as bases da moderna teoria do “towscape” - na Inglaterra,
por exemplo, a partir da divulgação do movimento de Howard, Atlântida e Imbé,
ficaram sob a fiscalização de um plano que não permitia erigir mais nenhum
edifício residencial nos centros e dispunha ao redor das cidades um cinturão de cidades satélites.
As iniciativas de Ubatuba de Faria (Atlântida e Imbé ) tiveram de
demonstrar que era economicamente possível a construção inteira de uma cidade
nova e não só as pequenas atuações, que
já haviam iniciado na capital.
Podemos considerar como sendo os aspectos mais importantes da obra de
Ubatuba de Faria, no que se referem ao controle paisagístico: as disposições de
Atlântida e Imbé sobre espaços cercados, os cultivos, a vegetação, a
conservação dos espaços públicos, as variações de construção admitidas e não
admitidas e os ruídos a evitar.
O objetivo é indicar que certos fenômenos que induziram buscar no passado
a ocupação do litoral norte com a criação do Departamento Balneário Marítimo
pelo Estado Novo é que nos levara a observar
o papel das instituição publicas através de interrogações e
questionamento sobre o seu papel no desenvolvimento e crescimento do litoral
como instrumento político e social da região litorânea.
A historia dessas observações,
intuições e esboços de teoria que começaríamos a compreender a partir de
uma releitura de textos que se inserem na ocupação do litoral gaúcho.
O Estado Novo passa necessariamente pelo campo ideológico político com a
burguesia na sus fase de conquistas, serve da ideologia para democracia e a
ordem existentes, revela o caráter de classe, atacando a sociedade que dele
deriva com seus valores, “ uma vez a chegada ao poder, ideologia da burguesia
dissimula as relações de denominação e de exploração capitalista. Apresenta-se
um Estado burguês com um interesse geral e a propriedade privada dos meios de
produção como fundamento e símbolos da justiça e igualdade etc... A classe
social e do mesmo tempo produtora e prisioneira de sua ideologia.”[6]
Diante desta reflexão o Estado Novo se enquadra com suas propostas de
desenvolvimento e crescimento a partir deste enfoque no processo de ocupação do
litoral norte, que apresenta, indícios dos setores estruturados, mas com
conhecimento técnico. Começaram a formular propostas na sua ocupação através da
ideologia que passava pelo positivismo como um instrumento de armazenagem de um
conceito de cultura e formação: A vida social é produtora de valores e normas e
, ao mesmo tempo de sistemas de representações que as fixam e traduzem. Assim se
define um código coletivo segundo o qual se exprimem as necessidades e as expectativas, as esperanças e as
angustias dos agentes sociais.em outras palavras as relações sociais .[7]
[1] PESAVENTO, Sandra:
Muito Além do Espaço: por uma historia cultural do urbano /Sandra Pesavento/
1995 /pg 281
[2] PESAVENTO,
op.cit.,pg 330
[3] PESAVENTO, Sandra:
Muito Além do Espaço: por uma historia cultural do urbano /Sandra Pesavento/
1995 /pg 283.
[4] PESAVENTO,
op.cit.,pg 284
[5] PESAVENTO,
op.cit.,pg 288
[6] BACZO, op.cit.,pg
304
[7] BACZO, op.cit.,pg
308



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