D. CRIAÇÃO URBANA DO LITORAL NORTE

A palavra Urbanismo, criada na segunda metade do século XX, consagra o aparecimento de um discurso especifico sobre o urbano e um enfoque radicalmente novo da cidade como objeto; atitude instaurada pela grande ruptura da revolução industrial, onde é preciso rever a repercussão das transformações tecnológicas, econômicas e demográficas que fizeram surgir uma nova problemática do urbano, igualmente, a dimensão critica que doravante afetara as relações da sociedade ocidental com suas produções...  [1]

A produção urbanística de Ubatuba de Faria apresenta-se como extremamente reflexiva voltando-se sobre si mesma: pensa a si própria e é também espaço onde o urbanista se reflete, ora individualizando-se em afirmações de sua identidade, ora citando-se dentro de um contexto francamente aberto; reflexiona sobre o tempo, a tradição e a memória ou apresenta-se vestida de conceitos, Urbanização da Várzea do Gravataí.

Com uma área de 700 ha, situada na zona norte de Porto Alegre  Ubatuba de Faria propôs um projeto de bairro industrial nesse local pela seguintes justificativas: por ser ponto de intercâmbio entre a região de maior produção e o exterior, e por ter fácil ligação por via fluvial lacustre, ferroviária e rodoviária. Como se tratava de área de várzea, baixa, o primeiro passo deveria ser aterramento e drenagens, obras em cima das quais o próprio Ubatuba o teorizava dizendo que “o ponto fundamental de qualquer obra de urbanismo é o saneamento”.A descrição do projeto geral pelo autor inicia pelo item “zonning”, propondo a divisão da região em duas grandes zonas, zona industrial e portuária.

O item seguinte denomina-se Plano de Avenidas. Afirma, o autor, que a topografia plana facilitou grandemente o sistema de avenidas, permitindo um traçado mais racional. Localizamos no centro da zona uma grande forma elíptica, para esse local confluirão as avenidas principais de 30, 40 e 50 m de largura, com grande raio de curvatura.

Na zona industrial as ruas serão retas, tanto quanto possível, na zona de moradia, limitada pela linha férrea de manobras, fica dividida em segmentos determinados pelo traçado das avenidas de maior tráfego, cada um desses segmentos com sua praça, escola e quadra comercial, formará um centro de vida própria.

A seguir descreve o centro cívico, onde define que em torno da grande elipse central se construirão agências de correio e telégrafos, filiais dos bancos, cartórios, departamentos da prefeitura, cafés, bares, cinemas, etc. E passa a descrever a zona industrial com avenidas largas e quadras retangulares.

Do conjunto de idéias expostas, acrescentando ainda aquela de arborizar tanto a zona residencial como a industrial, assim como de criar muitas áreas verdes, percebe-se uma dupla influência urbanística sofrida. De um lado, da obra de Tony Garnier, a Cidade Industrial com um zoneamento claro e a definição de distrito industrial. Por outro lado, das idéias de Ebenezer Howard sobre cidade-jardim, que por sinal o projeto de Ubatuba se aproxima mais do diagrama teórico elaborado por Howard, das cidades-jardins, assim como as influencias do urbanista  uruguaio Mauricio Cravotto autor do projeto do Plano Regulador de Montevidéu e do Plano de Mendonza.

Essa constatação se não explica, justifica porque a burguesia se apropriou da imagem da Cidade-Jardim, que havia sido elaborada para os trabalhadores de renda baixa. Estes, em principio a rejeitaram e aquela, sempre afeita a mudanças, busca de melhores condições de vida e de representação social a tomou para si como modelo, acrescentando o ingrediente da valorização e do status.

Talvez seja essa interpretação dada ao projeto da Vila Operária ou Vila Jardim, em Porto Alegre. Já que se tratava de área de habitação para as classes populares, Ubatuba se decidiu pela utilização do modelo original de Howard. O qual o autor denominava de diagrama, e não pela forma mais usual, aquela que já  estava comprometida com a burguesia. Esse é o assunto que merece ser aprofundado.

Não devemos esquecer que até o inicio do Séc XX, o urbanismo metódico e consciente não era praticado no Brasil.As ruas eram estreitas, sinuosas, sem calçamento e iluminação, ribeirões cortavam bairros elegantes, plantas rasteiras cresciam nas sarjetas.Parques, praças e avenidas eram praticamente inexistentes. Somente no principio do século desenvolve-se conceitos sobre urbanismo com o planejamento de Belo Horizonte, reformas no Rio de Janeiro, as áreas dos Jardins em São Paulo e Porto Alegre, que deve caracterizar-se pela universalização da informação da transformação urbana.

Luiz Arthur Ubatuba de Faria apresenta seu projeto como renovação de interesse na dinâmica entre estas duas variáveis que gerou avanços significativos nas perspectivas de crescimento urbano, levando a uma reflexão na questão sócio-espacial e evolutiva, promovendo o desenvolvimento das teorias de diferença não-linear e nas equações diferenciais.

Desse modo, num esforço gigantesco, procurou, com seus parcos recursos, como Diretor do Departamento Marítimo, levar a infra-estrutura de serviços urbanos e equipamentos comunitários obrigadas a estende-los muito mais do que seria necessário, caso não houvesse, ou houvesse, terrenos baldios em quantidade razoável.



[1]  BANHAM, Reyner, Teoria e Projeto na Primeira Era da Maquina, Editora Perspectiva, 1975.

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